O livro, tanto por sua sinopse da quarta capa, quanto no blog em
questão, se apresenta como uma história libidinosa, cruel, soturna e
mais, ele lhe prepara para o choque de um grande tabu em nossa sociedade
que são os relacionamentos sexuais entre familiares, mais precisamente
entre pais e filhos, ou entre irmãos. Diante essa propaganda, certo
calafrio, incomodo e muita curiosidade (e receio) surgem no estomago
feito um sopro gelado, uma chama fria que inquieta antes da leitura.
Abre-se o livro, e um pouco mais do terreno do castelo é situado através
do prefácio de Alfer Medeiros, onde “um aquário com mais peixes do que
seria aconselhável”, - seguindo as palavras dele – é nos oferecido com
alguns flashes da vida destes personagens trancafiados por uma redoma
sobrenatural e misteriosa, nas mãos de um carrasco espectral e
indomável.
Mas não, eu não digo isto deste livro.
Esta história é sobre outra cousa. Ela fala sobre a adversidade, sobre a
solidão entre iguais, sobre o amor, mas principalmente sobre a coragem,
sobre a esperança, sobre o dialogo e sobre família.
A crueldade aqui, entre os seus, entre os humanos, é vinda pelas mãos
desespero, e não pela maldade pura ou pela arrogância. Aqui, entre as
paredes do castelo perdido em algum lugar de antigas terras
(provavelmente portuguesas), o tempo que corre acelerado, é também o
tempo do sofrimento, do abuso, da falta de sorte, de uma maldição, mas
também é onde se cuida dos seus, na mais completa adversidade. Sim, as
necessidades básicas como alimento e eletricidade são supridas por esse
ser mesquinho e sádico, mas tudo o mais é plantado por eles, e para os
seus, a educação, a leitura, o cuidar de que exista o mínimo de conforto
no caos desse fechado universo, trancado por segredos e promessas de
séculos atrás.
O romance é dividido em três partes (além dos capítulos), onde primeiro
conhecemos essa atual geração, que vive no hoje sobre os ataques deste
fantasma que tem como único intuito o abusar das mulheres, e que busca
um modo de esclarecer tudo que há, através de uma conversa à muito
adiada; o segundo é a revelação de um passado, onde a magia, que é o
conhecimento das forças da natureza, é abolida durante a inquisição, em
Portugal, e onde todo o mal teve início; e no terceiro, temos novamente a
geração do hoje lutando por sua sobrevivência em meio a mais revelações
e sofrimento e morte.
No primeiro momento, tantos nomes e diferentes personagens/narradores
nos deixam um tanto confusos, mas é preciso se desapegar desta primeira
lacuna e se concentrar no que interessa de fato, a história que essas
narrações nos trazem. A escrita da Susy Ramone é rápida, veloz. Ella não
nos prepara para o que virá, não há rodeios ou firulas, é direto ao
ponto, um soco no estomago.
Já no segundo momento da trama, a presença de um personagem/narrador
fixo facilita o envolvimento com os acontecimentos, e o que parecia ser
uma trama apenas de fantasma, ganha novos ares. Surge o segundo elemento
fantástico, a bruxaria, que é tanto o conhecimento da energia, quanto
do universo.
Quando chegamos à terceira parte, o livro ganha ação e velocidade, tudo
ocorre muito rápido na urgência de se garantir a sobrevivência. Aqui,
nascem mais erros das atitudes destes personagens, alguns definitivos e
inesquecíveis, daqueles que ficam marcados a fogo na alma dos que os
cometem, assim como vêm as perdas dos muito queridas e o fortalecimento
dos seus laços, e também o restabelecimento da confiança que só a
verdade compartilhada e o fim dos segredos é capaz de plantar. Florescem
aqui, o bem, e do outro lado, o mal ganha mais ferocidade e audácia,
não tendo nada a perder.
Na prática, toda a libidinagem do drama, apesar de ser dita, não é
descrita (não na grande maioria dos casos), o que choca aqui, então, é
muito mais o conceito e as palavras veladas, do que a cena. Isso torna a
leitura apta para o mais retrogrado e conservador leitor, por isso digo
que, apesar de toda a tortura, crueldade, sangue e sexualidade frívola
da história, o TEXTO não é erótico ou sádico, o que é muito bom. Pois
aqui, o que vale é o conceito, é o que o livro nos passa em suas
entrelinhas.
O Castelo Montessales é diferente de tudo que já li, pois ele,
conforme ganha páginas, entra no diferente e no imaginável. A leitura é
prazerosa e muito rápida. Ao fim, tive a sensação de que não havia lido
um livro, mas visto um filme com peso, de ambientação soturna, que me
entreteve e me tirou do meu lugar comum. Uma história que vai muito além
da sinopse.
Apesar de todos os pontos positivos no livro, ele precisa de ajustes.
Primeiramente uma nova revisão com separações mais claras entre a
narração de cada personagem, pois com a alternância entre narrador,
narrador/personagem, narrador, somada a escrita veloz e direta, já seria
um bom exercício de compreensão de um efeito que eu, particularmente,
gosto, porém, do modo que está, saímos da necessidade de adaptação da
leitura para um esforço que nos afasta da história. Isto também se soma a
diagramação que poderia abusar um pouco mais dessas trocas ajudando a
esclarecê-las e contribuir para o valor físico do livro.
A capa, apesar do tom enigmático, não nos liga ao que é o universo
Montessales, deixando faltarum certo “que” que se assemelhe a história.
O livro, de 165 páginas, precisa ter fisicamente uma aura mais próxima
do que a autora nos propõe com seu romance. São pequenos ajustes que,
não são o elemento principal, mas colaborariam e muito para o todo que
se apresenta.
Encerro, dizendo que fui surpreendida todo o tempo pelo que lia. Que a
escrita da Susy Ramone é gostosa, fruída, tangível. Um livro que me
ganhou no decorrer de cada página por ser nada daquilo que eu esperava.
Um surpresa e tanto de elementos fantásticos e sobre como eles se
apresentam e podem ser entrelaçados para contar uma história que vai
muito além de violência e temor. Uma história que nos confere à
esperança, como uma flor que nasce em meio ao caos da poluição, que é o
mal, e o concreto, que é a dor.
Fonte:
http://carolinamancini.blogspot.com.br/2012/11/o-castelo-montessales.html
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ResponderExcluirAdorei seu texto, pois é misto de literariedade. Aproveito para desejar feliz 2013 e que desvende os dias deste ano ímpar que paira em nossas vidas. Abraço fraterno, Jasanf.
ResponderExcluirGreat post dude. Thanks for sharing such an useful information. Certainly a great article and really valuable to us.
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