O Prefácio





Com vocês o senhor prefaciador:

Alexandre Medeiros é um profissional de TI que, quando toma a pílula do Vira-Lata misturada com a poção do Dr. Jeckyl, transforma-se em Alfer Medeiros, fiel escudeiro da literatura fantástica.
Autor de Fúria Lupina e de Livraria Limítrofe, Alfer vem conquistando cada vez mais espaço na literatura nacional. Participa também de várias antologias de contos; entre elas Cursed City e Asgard. Um guerreiro das letras, com talento indiscutível e criatividade admirável.







Deixando de lado agora a imparcialidade, devo dizer que não me recordo com precisão a data que nos conhecemos pessoalmente, mas afirmo que desde aquele momento eu ganhei um amigo.
Alfer foi o primeiro a ler O Castelo Montessales e não me poupou das suas críticas.
A princípio eu havia colocado entre os habitantes do castelo uma pequena maravilha tecnológica. A televisão.
Ele achou um absurdo e sugeriu que eu retirasse o item, pois não havia verossimilhança alguma naquela maluquice que eu havia implantado na história.
Puxa, mas eu tinha cenas tão interessantes com a televisão...
Relutei o quanto pude e ele me dizendo: Imagina só... Com tantos canais religiosos, o pessoal ia se transformar em ovelhinhas do senhor... não tem cabimento uma coisa dessas... tira isso já!
Óbvio que ele tinha razão e foi duro me desapegar dos trechos tão legais que iam para o lixo.
Mas eu respirei fundo e fui cortando. Perdi aproximadamente cinco por cento do meu texto. Em contrapartida, outras idéias surgiram e o Alfer me ajudou a encontrá-las.
Se a idéia não é boa, tem que cortá-la sem dó. Isso eu aprendi com ele e hoje já não sofro tanto quando jogo fora páginas e páginas de algum trabalho que não prestou.
Bom, mas vamos então ao prefácio. Depois de degustá-lo, sugiro que visitem o link abaixo e conheçam as obras de Alfer Medeiros.
http://alfermedeiros.blogspot.com/


Prefácio
Apresento-me a você como uma daquelas figuras misteriosas, vistas em diversas histórias, que surgem repentinamente e dão um aviso ameaçador. Pode me imaginar como um ser envolto por um capuz que revela somente os contornos de um corpo esquálido, com voz enregelante, surgido do nada em um corredor escuro e frio. Posso incorporar também um vidente, repentinamente alarmado ao ler o seu futuro e perceber um mal incomensurável no seu caminho, expulsando-o do meu local de trabalho com olhos arregalados e gritos histéricos. Outra opção é me imaginar sob uma pele imunda, cabelo e barba longos, vestido de trapos: o tradicional mendigo louco que aponta para você e berra coisas sem sentido sobre o fim do mundo, deixando-o com uma sensação de incômodo impossível de ignorar, fazendo-o pensar se tais palavras insanas são realmente vazias.
Mas não se preocupe com o mensageiro. O importante é deixar bem claro a principal finalidade deste prefácio: não diga que eu não avisei. Eu poderia usar frases feitas, como "venha por sua conta e risco" ou "abandonai a esperança, vós que entrais", porém vou um pouco além. Mostrarei a você uma visão rápida, um retalho superficial e impreciso do que encontrará nas próximas páginas.
Eu descreveria o microcosmo do Castelo Montessales como um aquário com mais peixes do que seria aconselhável. Um lugar totalmente isolado, com abrigo e alimento para seus moradores, um ambiente que, quanto mais populoso, mais conflitos gera. Uma falsa normalidade, repleta de dias tediosos e muito parecidos entre si. Somente os membros mais antigos, conhecedores do mundo contemporâneo fora das paredes de vidro invisíveis, sabem que isso não é natural.
É importante entender como é a vida de um homem nesta tenebrosa moradia. Ser um representante do sexo masculino aqui é estar sempre sob olhares femininos misteriosos, por vezes apaixonados, por vezes rancorosos; ser acusado de coisas que você não se lembra; se sentir basicamente um pedaço de carne, um animal de carga. A única certeza que você tem é que elas escondem algo e atuam como conspiradoras em uma trama fora do seu nível de conhecimento.
Também não é fácil ser mulher por aqui. Seus sentimentos são manipulados, seu corpo passa a ser alvo constante de um desejo insano e torpe, a partir do momento que alcança o grau de maturidade que as forças regentes do castelo acham adequado. E o pior de tudo é ter de permanecer calada frente aos abusos que sofre, ignorar que outras também compartilham seu sofrimento.
E existe aquele que tudo governa, o titereiro sobrenatural a brincar com a vida e a sanidade de todos. A mão fantasma que dá e tira com o mesmo ímpeto, a máscara de bondade moldada sobre mentira e sofrimento. Deixarei a cargo da própria autora a apresentação mais adequada deste astro-rei do além, ao redor do qual orbitam todos os infelizes moradores do Montessales. Ela mostrará o mal travestido de bem a espreitar dos cantos escuros de cada cômodo e de cada trecho do terreno sinistro.
Esta obra incomoda. Pelo menos foi isso que senti ao lê-la - e gostei muito disso. A cada novo depoimento apresentado, coisas como opressão, mentira, ódio, estupro e incesto são lançadas sobre nós como uma saraivada de golpes rudes e dolorosos. Isso pode representar um "fique atento", um "eu o desafio" ou um "caia fora", dependendo de como você encarar as situações apresentadas.
Aqui estou eu, em um trecho do terreno do castelo, logo após a grande pedra próxima aos carvalhos, no topo de uma colina. Este é o cemitério onde as pobres almas deste lugar amaldiçoado buscam a paz que não encontraram em vida. Apoio-me em uma lápide de mármore com o eterno dizer “Descanse em Paz”. Esta é a minha inspiração para finalizar o prefácio, concluindo meu texto de forma brusca, como aconteceu com a vida do pobre Luke, o cadáver a descansar sob meus pés. Gostaria de falar muito mais, mas prefiro deixa-lo seguir adiante e encontrar as palavras da própria Susy Ramone, a mente que concebeu esta trágica história.
Adentre o Castelo Montessales, o lugar onde A Volta do Parafuso encontra O Enigma do Mal, e aproveite a estada. Conheça os peixes do aquário e o mestre das marionetes, escolha seus preferidos, se emocione, se revolte. Mas depois não diga que não foi devidamente alertado do que estava por vir...
Alfer Medeiros

3 comentários:

  1. Apenas para servir como registro histórico: nos conhecemos no lançamento de Extraneus vol.2, evento da Editora Estronho lá no Pier 1327.
    Troquei um Fúria Lupina por um Anjo Maldito, e o intercâmbio de ideias começou lá mesmo!

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